MOVIMENTO MONÁRQUICO E AÇÃO POLÍTICA
Por Carlos Alexandre Jaeger Bertolin
01/02/2017

 

Era uma vez, há muitos e muitos anos, um gigantesco Império governado por um bondoso Imperador. Da noite para o dia o Imperador foi destronado e o Império se transformou em uma República. Foi o início da desorganização e a institucionalização gradativa da corrupção no Brasil.

É consenso entre os historiadores que a República pegou a todos - Governo, Família Imperial e povo - de surpresa. Havia rumores, havia indícios, mas nada indicava que a Monarquia cairia tão facilmente e a República se enraizaria tão rapidamente e tão profundamente em nosso País.

Por que isso ocorreu? Como foi possível que um pequeno grupo de militares, muitos dos quais nem sabia o que estava fazendo, e um punhado de políticos frustrados conseguissem derrubar uma instituição aparentemente tão sólida quanto a Monarquia?

A resposta é simples: Ação política.

Os republicanos eram em pequeno número, mas estavam organizados. Tinham um pequeno e ágil partido político e dezenas, se não centenas, de Clubes Republicanos espalhados pelo País. Aos poucos eles conseguiram que uma idéia um tanto absurda passasse a ser encarada com certa naturalidade e, mais tarde, até com um sentimento de inevitabilidade. A República viria mais cedo ou mais tarde. Só não se sabia quando ou como.

Guardadas as proporções, é o que novamente está acontecendo no Brasil. Arautos do Socialismo vivem nos dizendo, por todos os meios possíveis, que o socialismo é a solução, que o socialismo é o nosso futuro. E estamos nos acostumando com essa idéia. Aos poucos vamos aceitando o vocabulário socialista, os valores socialistas. Assim no dia em que os seus líderes acharem que o país está pronto, o socialismo será implantado de forma quase indolor, como o foi a república.

Novamente a chave para isso é a ação política. No início, os socialistas não tinham número suficiente para encher uma sala como esta. Agora são milhões. E ainda dizem que o socialismo morreu.

E nós, monarquistas? Em 1889, quase 100% da população eram monarquistas. Na Assembléia Geral havia dois e, depois, apenas um deputado republicano. No final do ano a Monarquia caiu e nem cinco anos depois estava sepultada de forma irreversível. Como isso foi acontecer? A resposta também tem a ver com ação política, mas, neste caso, com a sua falta.

Apesar da sua hegemonia política e social, ou, talvez, precisamente por isso, os monarquistas nunca sentiram necessidade de se organizar de modo a enfrentar os republicanos. E após a queda do Império não conseguiram mais fazê-lo.

Ao contrário do que nos foi ensinado por muito tempo, houve, sim, resistência à República. Mas foi uma resistência esparsa, desarticulada, de idealistas, que nunca conseguiu abalar de fato a nova ordem vigente, exceto nos episódios da Revolução Federalista e da Revolta da Armada.

Ao longo deste mais de um século de República, várias organizações monarquistas foram criadas. Cito o Diretório Monárquico, do início da República, e a Imperial Ação Patrianovista, que durou algumas décadas. Essas organizações, no entanto, falharam em estabelecer metas e planos de ação. Na maioria das vezes acabaram se transformando em pouco mais do que clubes de saudosistas.

Apesar disto, desde a proclamação da República houve algumas chances de Restauração, mas que foram sistematicamente perdidas pelas mais diversas razões. A mais recente foi o plebiscito de 1993, quando, pela primeira vez, pudemos fazer uma campanha política. Sem dúvida foi uma campanha fraca, com falhas. Mas foi a melhor campanha possível naquelas circunstâncias.

Nas últimas décadas do século XX finalmente começaram a surgir organizações mais voltadas para a luta política. Foi criado o IBEM do RJ, de curta duração, e o seu "filhote", o IBEM-RS, fundado em 1985 e que é a mais antiga entidade monárquica em atividade no Brasil.

O objetivo inicial do IBEM-RS era influir na Assembléia Constituinte que estava sendo convocada para que a famigerada cláusula pétrea que impedia a discussão sobre Forma de Governo fosse removida da futura constituição.

Conseguimos muito mais. Em parceria com o então Dep. Cunha Bueno, eliminamos a cláusula pétrea e ainda obtivemos a convocação do plebiscito, que havia sido prometida pelos golpistas de 1889, mas nunca saíra do papel.

O resultado do plebiscito é conhecido de todos: tivemos cerca de 13,40% dos votos válidos. No entanto, ao contrário de muitos, não acho que tenha sido tão mau assim. O partido que até há pouco estava no poder teve muito menos votos do que isso na primeira eleição que disputou. O nosso erro foi ter entrado numa espécie de torpor político por quase 10 anos. Não podíamos ter nos dado a este luxo.

No entanto foi por essa época que começaram a surgir novas agremiações monarquistas: o Pró-Monarquia, ligado à Casa Imperial, o Brasil Imperial,  vários círculos monárquicos e alguns IBEMs. Ao lado dessas instituições surgiram outras, mais voltadas para o resgate histórico de nosso período imperial e para assuntos culturais, como o Instituto D. Isabel I e outros.

Ainda assim, não se podia falar em um Movimento Monárquico Brasileiro. Foi só a partir de 2002 que se iniciou uma gradual rearticulação monárquica, principalmente, graças à Internet. Grupos de discussões foram criados permitindo um intercâmbio de idéias entre pessoas de diferentes Estados. Desde então houve vários encontros, inúmeros seminários e reuniões pelo Brasil a fora.

Atualmente, temos no Facebook e no WhatsApp duas fantásticas ferramentas para discussão e divulgação dos ideais monárquicos.

Nos últimos anos tem havido um renascimento do interesse na nossa Monarquia. Livros, teses e dissertações sobre o Império e a Família Imperial têm sido escritos com uma freqüência cada vez maior.

O atual ciclo republicano está se esgotando. A atual VI - ou seria VII? - República dá mostras de colapso. As instituições estão se mostrando incapazes de corresponder aos anseios e necessidades do nosso povo. E as pessoas percebem isso. Cada vez mais as pessoas se sentem enganadas, usadas, traídas por aqueles que deveriam defendê-las, os nossos governantes.

E o que nós estamos fazendo para capitalizar essa insatisfação? Teremos nós capacidade de organização e cacife para "surfar" nesta onda monárquica? Ou mais uma vez vamos deixar passar o bonde da História?

Mas o que fazer? Como reverter mais de 110 anos de desinformações, equívocos e preconceitos?

Não é uma tarefa fácil.

Acredito que temos duas maneiras, uma complementando a outra.

Por um lado, precisamos contar às pessoas a verdade sobre nossa História Imperial, sobre nossos Imperadores, sobre um projeto de País que foi abortado e substituído não por outro, mas por um regime cuja principal característica é precisamente a falta de projetos de longo prazo. Temos de dissociar a Monarquia da Escravidão, que a manchou de forma indelével. E precisamos fazer isso de todas as formas possíveis, com seminários e debates em escolas e universidades. Mas não podemos só olhar para o passado lamentando o que perdemos e o que poderíamos ter sido.

Temos de olhar para o presente visando o futuro. Para isso precisamos nos inserir na política.

Como inserção na política, não quero dizer apenas política partidária. É verdade que precisamos de candidatos monarquistas aos cargos públicos. E precisamos que eles vençam as eleições e ocupem efetivamente tais cargos. Mas a ação política a que me refiro não se limita a isso.

É de fundamental importância que possamos mostrar as vantagens do regime que defendemos. Temos de explicar o seu funcionamento, as vantagens da separação da Chefia de Estado da Chefia de Governo e as vantagens de uma Chefia de Estado apolítica, vitalícia e hereditária.

Ou seja, precisamos valorizar o passado e nossas figuras históricas, mas também nos articularmos no presente de uma forma objetiva e clara.

Precisamos tornar a Monarquia uma opção viável e séria ao atual estado de coisas. Para isso precisamos levar nossa mensagem aos jovens, aos empresários, aos empregados, aos funcionários públicos, aos militares, aos professores.

Nós, do IBEM-RS, sempre procuramos gerar fatos políticos que chamem a atenção da mídia. Sempre que um Príncipe brasileiro, por razões particulares ou não, visita nosso Estado e nos solicita, procuramos algum tipo de cobertura da imprensa.

Temos participado de debates sobre Forma e Sistema de Governo em Universidades e em programas de rádio e televisão. Temos por princípio não recusar convite algum e sempre mandar pelo menos um representante ao evento. Publicamos, também, panfletos para serem distribuídos à população nos parques, nas praças, nas estações de trem. É digno de nota o fato de que a maioria das pessoas que recebem nossos folhetos não se mostra hostil ao seu conteúdo. Ao contrário, muitas pessoas procuram quem estiver distribuindo os panfletos para dar o seu apoio.

Nas recentes manifestações pró-impeachment um número cada vez maior de pessoas compareceram e se fizeram fotografar com a Bandeira Imperial em várias cidades do País. Isso significa que a semente está plantada. Agora precisamos cuidar para que ela germine.

A Monarquia precisa virar notícia. E, mais do que isso, ser vista como uma alternativa viável à nossa fracassada República.

Para tanto, precisamos de pessoas participativas, dispostas a ceder um pouco do seu tempo em benefício de uma causa que acreditam e que, tenho certeza, poderá recolocar nosso País no caminho do desenvolvimento pleno, com paz e prosperidade para todos.

 

Originalmente publicado em 08/09/2016

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